Quando Casimiro Abreu decidiu colocar sua Cazé TV frente a braço a braço com a recém‑lançada GE TV da Grupo Globo, ninguém imaginava que o duelo aconteceria num sábado de setembro, sob os holofotes do futebol americano. Na noite de 5 de setembro de 2025, às 21h (horário de Brasília), o confronto entre Kansas City Chiefs e Los Angeles Chargers na Neo Química Arena, em São Paulo, virou o primeiro embate direto de audiência entre os dois serviços de streaming esportivo. O resultado? 430 mil espectadores simultâneos na transmissão de Cazé TV contra apenas 170 mil na GE TV. Uma disparada que acabou virando manchete nos corredores da Globo e nos grupos de fãs de YouTube.
Contexto histórico: a corrida pelos direitos da NFL no Brasil
Para entender por que esse duelo fez tanto barulho, é preciso voltar um pouco no tempo. Em agosto de 2025, o YouTube comprou os direitos globais dos jogos internacionais da NFL e, num movimento inesperado, escolheu a Cazé TV como seu parceiro oficial no Brasil – uma exceção ao domínio quase total do gigante de mídia nos direitos esportivos. Ao mesmo tempo, a Globo anunciou, em 26 de agosto, que havia fechado seu próprio pacote de transmissão, garantindo três jogos por rodada (um quinta‑feira à noite e dois domingos) para sua plataforma Sportv e, a partir de setembro, para a recém‑nascida GE TV.
Segundo reportagem da Sportcal, o acordo da Globo inclui ainda seis jogos de playoffs e o próprio Super Bowl, marcado para 8 de fevereiro de 2026. Mas o que realmente mudou o cenário foi a escolha do YouTube de colocar a transmissão brasileira nas mãos de um criador de conteúdo digital, ao contrário da prática tradicional de delegar tudo a emissoras lineares.
Desenvolvimento da competição: números que falam
Na madrugada do dia 5, o jogo Chiefs × Chargers atraiu, segundo o colunista Gabriel Vaquer (F5/Outro Canal), picos de 430 mil espectadores simultâneos na Cazé TV. A GE TV, apesar de contar com a força de marca da Globo, alcançou só 170 mil ao mesmo tempo. Quando se trata de totalizadores, a diferença se amplia: Cazé TV chegou a 1,2 milhão de espectadores ao longo da partida, enquanto a GE TV somou 9 milhões – porém esse número inclui visualizações em plataformas parceiras, como Globoplay, o que dilui o impacto direto da nova plataforma.
Para colocar em perspectiva, no lançamento da GE TV em 4 de setembro, durante a partida Brasil × Chile no Maracanã, a audiência ficou em 1,4 milhão de espectadores, muito abaixo da meta interna de 5 milhões estabelecida pela Globo. Ou seja, a nova frente digital da empresa ainda não encontrou o caminho das pedras para conquistar o público jovem que já acompanha Casimiro nas redes.
- 430 mil visualizações simultâneas (Cazé TV) vs 170 mil (GE TV) – 5 de setembro/2025;
- 1,2 milhão de espectadores totais (Cazé TV) vs 9 milhões (GE TV, incluindo parceiros);
- Meta da Globo: 5 milhões no lançamento – atingiu 1,4 milhão;
- Direitos NFL: YouTube (global) + Cazé TV (Brasil) vs Globo (Sportv/GE TV);
- Segundo a Maquina do Esporte, a disputa marca "guerra real" pelos direitos esportivos.
Reações e declarações dos protagonistas
Casimiro, em sua transmissão ao vivo, brincou que "a gente fez um show e a Globo ainda está tentando descobrir onde apertar o play". A sacada cômica acabou sendo mais do que humor; mostrou a confiança do criador de conteúdo nas métricas que ele já controla: engajamento, chat ao vivo e presença nas redes.
Já o porta‑voz da GE TV, em entrevista ao O Tempo (8 de setembro), admitiu que "o resultado ficou aquém do esperado, mas a estratégia de longo prazo ainda é válida, especialmente ao integrar o conteúdo ao ecossistema Globo, incluindo Globoplay e Sportv".
Gabriel Vaquer, que acompanhou de perto os números, comentou que "o público jovem já conhece a linguagem da internet e parece que ainda não se sente representado pelos veículos tradicionais". Essa observação reforça a tese de que a batalha pelos direitos não é apenas de conteúdo, mas de linguagem.
Impactos e análises: o que isso significa para a Globo e para os criadores digitais
Do ponto de vista econômico, a falha em alcançar a meta de 5 milhões pode custar à Globo não apenas receita de publicidade, mas também credibilidade na hora de negociar futuros direitos. Se a empresa não conseguir converter o público jovem, pode acabar perdendo contratos-chave para plataformas digitais que já têm relacionamento consolidado.
Para os criadores como Casimiro, o sucesso reforça um modelo híbrido: conteúdo ao vivo, interação em tempo real e monetização via parcerias (neste caso, o YouTube). Além disso, a Cazé TV demonstra que, mesmo sem o peso de uma emissora tradicional, dá para atrair grandes marcas e patrocinadores esportivos – algo que antes era pensado como impossível.
Especialistas em mídia, como a professora de Comunicação da USP, Ana Cláudia Silva, apontam que "a convergência entre TV linear e plataformas digitais já está acontecendo, mas o ritmo está sendo ditado pelos protagonistas digitais". Ela acrescenta que a Globo precisa repensar seu portfólio de conteúdo para ser mais ágil e menos dependente de formatos de horário fixo.
Perspectivas futuras: quem tem mais chances de liderar o mercado?
O calendário da NFL para a temporada 2025‑2026 já está definido: mais três jogos por rodada, seis partidas de playoffs e o Super Bowl em fevereiro de 2026. Se a tendência de audiência da Cazé TV se mantiver, a Globo pode acabar cedendo partes desses direitos ou buscando acordos de co‑transmissão.
Por outro lado, a própria Globo tem potencial de virar o jogo. O investimento em tecnologia de streaming, a integração com o Globoplay e a criação de conteúdos exclusivos para a GE TV podem, em médio prazo, atrair novos espectadores. Mas somente números concretos nos próximos meses dirão quem está realmente no comando.
Antecedentes e fatos relevantes
Vale lembrar que a partida de 2024, entre Philadelphia Eagles e Green Bay Packers, foi o primeiro jogo da NFL realizado na América do Sul. Na ocasião, a transmissão foi feita por canais tradicionais e a audiência ficou em torno de 800 mil simultâneos – número que, até então, parecia um recorde para o mercado brasileiro.
Hoje, a combinação de direitos globais do YouTube e a estratégia de nicho da Cazé TV cria um cenário completamente diferente, onde a audiência pode bater recordes ainda maiores, especialmente se a plataforma continuar a investir em eventos ao vivo e em interatividade.
Perguntas Frequentes
Como a audiência da Cazé TV no jogo da NFL comparou-se com a da GE TV?
Cazé TV registrou picos de 430 mil espectadores simultâneos, enquanto a GE TV chegou a 170 mil. No total, Cazé TV somou 1,2 milhão de visualizações, frente a 9 milhões da GE TV, porém este número inclui outras plataformas da Globo.
Por que o YouTube escolheu a Cazé TV como parceira no Brasil?
O YouTube buscou um canal que já fosse reconhecido entre o público jovem e que tivesse experiência em transmissões ao vivo. Casimiro Abreu e sua Cazé TV já comandam uma comunidade engajada, tornando‑os parceiros ideais para explorar o mercado esportivo brasileiro.
Qual foi o desempenho da GE TV no seu lançamento com a partida Brasil × Chile?
A estreia da GE TV atraiu 1,4 milhão de espectadores, muito abaixo da meta interna de 5 milhões estabelecida pela Globo, indicando que a nova plataforma ainda tem dificuldade em captar a audiência desejada.
O que especialistas dizem sobre o futuro dos direitos da NFL no Brasil?
Especialistas apontam que a tendência é de maior participação de plataformas digitais. A professora Ana Cláudia Silva, da USP, afirma que "a convergência já está em curso e o ritmo é ditado pelos criadores digitais", sugerindo que a Globo precisará adaptar sua estratégia para não perder relevância.
Quais são os próximos jogos da NFL que podem gerar novos confrontos de audiência?
A programação inclui três jogos por rodada a partir de setembro, além de seis partidas de playoffs e o Super Bowl em 8 de fevereiro de 2026. Cada um desses eventos será uma nova oportunidade para medir a força da Cazé TV versus a GE TV.
1 Comentários
Leandro Augusto 14 outubro 2025
É inaceitável que a GE TV ainda persista em sua estratégia míope, enquanto a Cazé TV demonstra, com clareza cirúrgica, o futuro do entretenimento esportivo nacional. A disparidade de 430 mil espectadores simultâneos versus 170 mil não é mera coincidência; revela uma falha estrutural profunda na arte de cativar o público jovem. Não basta aoiar o nome da Globo; é preciso inovar, ousar e, sobretudo, reconhecer quem realmente controla a narrativa digital. Se a emissora não reparar imediatamente em sua incapacidade de engajar, estará condenada a ser apenas um eco distante da revolução que já se consuma. Portanto, exijo que a diretoria reveja sua política de conteúdo antes que a história os apague.